Operação Acolhida — Acompanhada dos cinco filhos, Grécia Mejias, de 24 anos, tenta manter, em Roraima, a tradição da terra que foi obrigada a abandonar há cerca de um ano. Ela está entre os milhares de imigrantes venezuelanos que têm cruzado a fronteira com o Brasil em busca de uma vida melhor. O Exército brasileiro calcula que 500 moradores do país da América do Sul cheguem diariamente.
FUGINDO DA DITADURA
'A minha intenção é ganhar algum dinheiro aqui no Brasil e
poder ajudar ou trazer a minha família que ficou na Venezuela', diz um
venezuelano desempregado que busca trabalho em Boa Vista
A praça ao lado da rodoviária de Boa Vista ainda é um ponto
de encontro de imigrantes venezuelanos. Eles tomam as calçadas à espera de
parentes, amigos e conhecidos. O movimento já foi maior, mas ainda impressiona
quem vê a cena.
Acomodados sob as árvores, eles procuram passar o tempo com
um pouco mais de ar fresco, pois a temperatura na capital de Roraima passa
facilmente dos 35 graus. E o tempo na região amazônica é abafado. Nessas rodas,
naturalmente, o idioma é o espanhol.
Faz pouco mais de um mês que Alberto Falcon frequenta esse
local. Durante a noite, o analista de sistemas, de 40 anos, dorme num dos
abrigos da capital destinados aos imigrantes. Mas a vontade de conseguir um
trabalho temporário, um bico, coloca-o nas ruas de Boa Vista, com muito sol
forte, atrás de algo. Não tem sido fácil. Mesmo assim, Alberto garante, essa
situação é melhor que a vida que tinha na Venezuela. Ele diz: “Aqui está muito
difícil arrumar emprego. Mas consigo algo para comer e sobreviver com a
família.”
Alberto está prestes a deixar Roraima para trabalhar em Mato Grosso do Sul. |
Alberto está prestes a deixar Roraima para trabalhar em Mato Grosso do Sul. Tem sido assim com muitos outros. O mercado de trabalho local não consegue absorver os milhares de migrantes que chegam há anos do país vizinho. “A minha intenção é ganhar algum dinheiro aqui no Brasil e poder ajudar ou trazer a minha família que ficou na Venezuela.”
Na Operação Acolhida, organizada pelo governo brasileiro, é
que essas pessoas conseguem, além de serem recebidas com abrigo, comida, saúde
e visto brasileiro, um encaminhamento para que se estabeleçam em outras regiões
do país.
Desde 2018, quando os trabalhos tiveram início, até setembro
de 2022, 84.463 venezuelanos foram atendidos, segundo o Ministério da
Cidadania. Na prática, são pessoas que foram realocadas para outros estados.
Santa Catarina é o que mais recebeu: foram 16.140 imigrantes. Depois vem o
Paraná, com 14.640, e o Rio Grande do Sul, com 12.805. Aí aparece São Paulo,
com 10.978.
Alberto, que em breve vai morar em Campo Grande, ainda não
sabe direito como será a vida no Centro-Oeste brasileiro. Mas a confiança que o
trouxe até aqui é o que o move para frente. Ele quer apenas ter uma vida digna
para a família, algo que sua terra natal não tem conseguido proporcionar.